Conhecendo o outback

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Escorpião que encontramos no nosso acampamento

Ir para a Austrália e não conhecer o outback e o Uluru, seria como ir ao Egito e não conhecer o deserto e a Esfinge. O deserto australiano (outback) não é igual ao Saara, em que há apenas areia para todo lado, mais parece uma savana, com arbustos, grama seca, propensão à queima e, claro, muitos animais peçonhentos.

No meio do outback, fica o Uluru, nome original de uma rocha enorme também conhecida como Ayers Rock (em homenagem ao Primeiro-Ministro australiano Henry Ayers), considerada sagrada pelos aborígines que a batizaram. O Uluru tem mais de 318 m de altura e 8 km de circunferência, além de alcançar 2,5 km de profundidade abaixo do solo. Diria que foi natural ficar com os dedos inchados após andar sob sol escaldante de 41 graus e é só encostar a mão na rocha para sentir o verdadeiro calor.


A paisagem é fantástica e assistir ao pôr do sol é incrível. Acredito que o Uluru seja o único lugar do mundo em que não se vê o crepúsculo. Olhamos exatamente para a posição oposta para ver as cores da rocha mudarem a cada passo que o sol dá.

turismo-de-luxo-australiaO turismo de luxo também existe. Muitos visitantes vão bem-vestidos ao deserto poeirento e tomam champagne ao pôr do sol, compram imagens de fotógrafos profissionais ou tiram fotos com suas câmeras megacaras. Nenhum dinheiro chega para quem realmente precisa ou para quem são os “donos” da terra por lei desde 1985 quando o governo australiano decidiu devolver a propriedade aos aborígines.

Apesar de não ser expressamente proibido, escalar o Uluru é sinônimo de desrespeito ao povo indígena. Portanto, os guias e o museu que fica perto do monólito advertem aos visitantes para não escalarem. No entanto, antes mesmo do Uluru virar uma atração aos alpinistas profissionais e amadores, os aborígines subiam até o topo para realizar rituais religiosos. Geralmente as inscrições nas rochas também são relacionadas à crença das tribos. Mas a recomendação de não escalar a enorme rocha não tem apenas cunho religioso, mas também de segurança. Relata-se que várias pessoas morreram escalando, de parada cardíaca ou por queda mesmo. O que é muito fácil de imaginar, já que o Uluru é uma única rocha, e não há pontos de apoio para se segurar.

Também não é permitido fazer buracos na rocha e nem levar pedaços dela para casa. No museu há um livro de “remorso” com mensagens e assinaturas de pessoas que devolveram as lascas que levaram, por se se sentirem culpadas ou por acreditarem que trazem azar. As cartas chegam de diversas partes do mundo. Infelizmente não tenho imagens do livro porque não é permitido tirar fotos dentro do museu.

É altamente recomendável acampar para quem quer ter a real experiência do outback. Dormir sob as estrelas em um saco de dormir ao lado de uma fogueira depois de ter comido um canguru é uma experiência possível apenas na Austrália.

E não sei dizer se infelizmente ou felizmente, mas choveu no deserto por quase um dia inteiro quando estive lá. Bom para quem precisa da água, ruim para os visitantes que precisam caminhar em rochas para conhecer os lugares. A ventania é absurda, mas no fim vale a pena. No dia da chuva fui conhecer as Olgas (ou Kata Tjuta na língua aborígene), que nada mais é do que um aglomerado de lindas montanhas rochosas como o Uluru. O ponto mais alto tem 546 metros, ou seja, 198 metros maior que o Uluru. Não me apedrejem, mas para mim as Olgas foram ainda mais impressionantes que o Uluru. E com a chuva forte as águas formavam cachoeiras entre as rochas.

Advirto que foi um milagre ninguém ter se machucado, porque é muito fácil se ferir ali e, com a chuva, as rochas viram um sabão. Eu mesma levei um tombo – e não, eu não estava tentando escalar nada, e cumpri direitinho as determinações do guia. Especialmente depois que ele nos contou que na semana anterior uma garota havia quebrado o pé e um helicóptero teve que buscá-la para levá-la ao hospital. No meu caso, felizmente, não houve nenhuma consequência grave além da diversão extra aos outros turistas.

O último destino da nossa excursão foi a desafiadora caminhada de 6 km em volta do Kings Canyon, que levou cerca de quatro horas. É incrível imaginar que aquele desfiladeiro gigante já abrigou um oceano num passado distante. E dá para identificar as erosões de água nas rochas e fósseis de esponjas marinhas, alguns incrivelmente preservados. Atualmente é possível encontrar plantas exclusivas daquela região. Uma curiosidade: algumas cenas do filme “Priscilla, a rainha do deserto” foram filmadas no topo do Canyon.

Os lagos de sal também são famosos no deserto. O mais conhecido é o Lago Amadeus que tem 180 km de comprimento e 10 km de largura. Ele contém até 600 milhões de toneladas de sal, mas a coleta é inviável por causa da localização remota.

Dicas

camelo-outbackQuando for pra lá, anote na sua lista de afazeres: andar a camelo. É bem diferente de andar a cavalo e os corcundinhas são muito simpáticos. Enquanto caminhávamos era possível ouvir diversos cantos de pássaros e latidos de dingos não muito longe de nós. Simplesmente incrível. Alguns dos camelos foram laçados pelos atuais donos e domesticados. Infelizmente o governo australiano não se preocupa com o “roubo” dos animais selvagens porque são considerados pragas por não terem predadores. Os camelos foram trazidos à Austrália em 1840, vindos da Índia, mas a mecanização os tornou inúteis e seus donos os libertaram no deserto. A maior população atual desses animais está concentrada no deserto australiano, e são tantos, que alguns fazendeiros importam exemplares para a Arábia.

As moscas são infernais. Há muitas e elas gostam do rosto das pessoas. Por isso eles vendem uma rede que cobre o rosto, bastante usada pelos turistas. Outra recomendação (óbvia até) é tomar litros de aguá porque todas as caminhadas são longas e requerem hidratação a cada 15 minutos. E, é claro, retocar o protetor solar sempre que possível.

Aprenda a jogar bumerangue ou tente aprender. É realmente difícil, mas não custa tentar. O que eu joguei voltou certinho… na cabeça do instrutor.

lanche-camelo-canguru
Se não for vegetariano, experimente o hambúrguer de canguru ou de camelo. Se não pelo sabor, ao menos pela excentricidade.

6 thoughts on “Conhecendo o outback

    • Olá, Paulo! Fiquei cinco dias, o primeiro e o último em Alice Springs (a cidade mais perto do Uluru e mesmo assim o ônibus percorre mais 450 km para chegar ao destino). Ao todo foram três dias no deserto e deu para ver tudo. Continue acompanhando o blog. Espero escrever mais matérias que você goste. Abraço!

    • Obrigada! Ainda tem tanta coisa para se falar sobre a Austrália. Nem sei se vai dar tempo e se tenho energia para tudo isso. De qualquer forma, fico feliz de ver que você está acompanhando. Beijo!

    • Comprei tudo em uma unica agencia, os cinco dias, sendo tres com passeios e comida inclusa custaram-me AU$ 750. O primeiro e o ultimo dia ficamos em Alice Springs onde tive que comprar a minha propria comida e paguei o passeio de camelo que foi AU$ 50. (Sem acentuacoes, sorry).

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