Choque cultural ao retornar ao Brasil

Não adianta negar, sempre há um choque cultural para quem retorna ao Brasil após passar alguns meses ou anos no exterior. Quando fiquei em Toronto, no Canadá, por apenas um mês, não percebi com tanta intensidade as diferenças das coisas que estavam ao meu redor, mas após os 11 meses longe de casa posso afirmar que me bateu um certo estranhamento.

arroz-feijaoEu não havia percebido quanta falta eu sentia de um bom arroz e feijão abrasileirado. Na Austrália, como o feijão era encontrado mais facilmente em latinhas, todos os brasileiros o compravam, mas o gosto e a aparência eram bem diferentes, muitas vezes adocicados e vermelhos. Tinha até uma loja que vendia produtos latino-americanos, mas o preço era absurdo, sem contar que, se eu nunca havia aprendido fazer feijão no Brasil, não seria na correria da vida na Austrália que eu ia tentar. Então eu sempre misturava outros ingredientes no arroz, como legumes ou queijo. Quando retornei ao Brasil, passei a colocar porções mais generosas de arroz e feijão e menos carne e salada, como normalmente eu fazia.

E não é só de coisa boa que senti tanta diferença. O atendimento em lojas também me surpreendeu. Na Austrália, todos os atendentes me davam atenção, ofereciam opções de produtos de acordo com o que eu pedia e, ainda, se não tinham o produto na loja, prontamente me indicavam onde encontrar, ainda que fosse em “concorrente”. Quando se compara ao atendimento no Brasil, a sensação é de que aqui a grande maioria dos vendedores tentam a venda a todo custo e, se não possuem o que você quer, tentem empurrar o que quer que seja no lugar.

segurancaA segurança, infelizmente, é outro ponto fraco bem conhecido aqui no Brasil. Quando eu saia do meu trabalho de madrugada na Austrália eu sempre manuseava o celular porque era a melhor hora pra falar com amigos e familiares daqui do Brasil (madrugada lá, meio da tarde aqui), e nunca tive nenhum problema em caminhar falando ou digitando no aparelho pelas ruas de Melbourne naquele horário. Ao voltar ao Brasil, em menos de três meses com o mesmo aparelho que comprei no primeiro mês em que estive na Austrália, sofri a primeira tentativa de assalto. Um ciclista enfiou a mão pela, fresta de vidro, dentro carro em que eu estava e tentou pegá-lo, mas não conseguiu.
Não quero ser negativa e sei que isso pode acontecer em qualquer lugar, e que a Austrália não está livre de roubo, mas nos 11 meses em que vivi lá não sofri nenhuma ameaça à minha segurança pessoal ou aos meus (poucos) pertences.

cantada-brasileiraA minha última comparação não tem nenhuma intenção de ser preconceituosa, mas me assustei quando andei no centro de São Bernardo do Campo (onde moro) e vi o modo como as pessoas gritam deseducadamente com as outras na rua, além de homens “cantando” mulheres na maior cara de pau e de modo chulo muitas vezes. Na Austrália eu nunca vi isso acontecendo. Podemos até concordar que se trata um pouco do temperamento mais “frio” ou “impessoal” dos australianos, em comparação a outros povos (especialmente os brasileiros), mas entre ser caloroso ou “passional” e ser mal educado há um abismo enorme, na minha opinião.

Tenho orgulho mesmo de ser brasileira e morri de saudades desta terra querida, mas quando fazemos tais comparações, infelizmente temos que admitir que há uma necessidade de mudança comportamental aos brasileiros, desde a manutenção da limpeza nas ruas (que muitas vezes já é precária) até o tratamento pessoal diante de desconhecidos. Porque se eu, que sou brasileira, senti todo esse choque quando voltei, imagino os gringos que vieram pra cá nesta época da Copa do Mundo. Mesmo que a maioria dos estrangeiros tenha gostado do que viu (segundo a imprensa), há certos pontos em que precisamos mesmo melhorar e acho que o maior investimento que deve ser feito para isso é na educação, fator que, não por coincidência, é levado a sério e muito valorizado na Austrália.

2 thoughts on “Choque cultural ao retornar ao Brasil

  1. Oi.
    Tenho mas uma dúvida.
    Não tem muito a ver com este post não, mas… Não vi nenhum outro post seu que falava sobre isso.
    Quando você foi para Melbourne programou para ficar um tempo, mas depois você falou que estendeu o seu visto, correto?

    Minha dúvida se encontra nisso.
    Pretendo ir em Março/2015. Inicialmente irei para ficar 3 meses, pagando então a escola, o visto etc… tudo voltado para 3 meses.
    No entanto, caso eu goste muito de ficar la e queira renovar meu visto, como se devo proceder?
    Já me informaram que eu teria que pedir a renovação na própria escola, Tudo bem. Mas eu teria que pagar a escola pelos meses que eu renovaria (ex: 1 ano)? Tipo, em cash hand ou você pode parcelar e pagar a escola mensalmente?
    Porque 01 ano de escola deve ficar caro pra caramba.

    Uma pessoa me informou que gastou mais de R$10.000,00 com a renovação do visto, o que me assustou muito, por isso me surgiu esta dúvida, levando em conta que essa pessoa não me explicou legal o por que desse valor.

    Desde já, muito obrigado!

    • Olá, Eliel. Eu havia programado para ficar cinco meses e depois resolvi ficar mais seis. Caso você decida ficar mais tempo é necessário pagar o visto (que está cerca de mil dólares) e a escola (que depende de quanto tempo e qual você achar mais interessante) tudo a vista. Infelizmente é muito caro mesmo, que eu saiba você pode dividir o valor da escola se fechar por mais de seis meses e ainda depende de qual delas porque nem todas parcelam. Eu paguei 5 mil dólares para uma escola, além do visto (tudo na renovação). Ou seja, se você renovar para um ano vai sair bem caro.
      Abraço.

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